A LEI DA COMUNICAÇÃO

A razão de ser dos professores

Resumo

Este texto é oriundo de uma exposição do autor na Faculdade Teológica das Assembléias de Deus, disciplina Educação Cristã II, que se objetivou promover uma reflexão quanto aos preceitos que giram em torno da comunicação, bem como demonstrar que o segredo de se comunicar bem é conhecer o assunto.
Palavras-chave – Comunicação; Ensinar; Mensagem; Entender.

A Comunicação

Como tornar a comunicação relevante: conhecendo os ouvintes, nos aproximando dos ouvintes, intimidade com o texto bíblico, estabelecendo uma ponte entre o texto e os ouvintes, pela simplicidade e objetividade da mensagem, pelo uso de boa ilustração, pelo equilíbrio da mensagem, dentre outros.

1. Estabelecer pontos de ligação

a) O termo comunicação vem do latim communis, que significa comum;
b) A comunicação exige o estabelecimento de pontos em comum entre o comunicador e o receptor;
c) Quanto maior o número de pontos em comum maior a probabilidade de uma boa comunicação — quanto mais nos aproximamos do ouvinte, mais condições temos de fazê-lo aproximar-se da mensagem;
d) Traçar meios de entrar na vida do ouvinte com o objetivo de conhecê-lo e criar pontos em comum — ajustar a mensagem para preencher as necessidades do aluno;
Jesus em seu diálogo com a samaritana derrubou todas as barreiras existentes (racial, religiosa, sexual, social e moral), com a finalidade de criar uma base para comunicar-se com ela. Muitas pessoas morrem de medo em entrar em nossas igrejas ou em dialogar conosco.

2. Pensamento, sentimento, ação

2.1. Toda comunicação possui três componentes básicos:
a) Intelecto — pensamento — algo que conheço;
b) Emoção — sentimento — algo que sinto;
c) Vontade — ação — algo que pratico.
Quanto melhor eu conhecer, quanto mais intensamente sentir e praticar, maior será a minha probabilidade de comunicar.
2.2. É preciso que os três componentes estejam presentes;
a) Somos vendedores de idéias, conceitos, e não de mercadorias, objetos;
b) É preciso conhecer e estar convencido da qualidade do produto;
c) Temos que praticá-la e que seu resultado esteja dando certo para mim;
Esse é o ponto de partida para a comunicação
d) A Bíblia é a revelação de Deus e temos que comunica-la ao mundo;
e) A mensagem está pronta, temos apenas que divulga-la. É uma vantagem, porém se constitui um grande problema dentro da comunidade evangélica, tendo em vista que:
· A maioria dos crentes se limita a transmitir a mensagem apenas intelectualmente;
· Dão ênfase excessiva as palavras;
· Damos pouco peso aos aspectos emocional e volitivo da comunicação. Emocionalismo é emoção descontrolada.
f) A comunicação eficiente sempre deve ter um ingrediente emocional — a palavra tem que vibrar em nossas vidas;
g) Estamos ensinando a verdade mais fascinante do mundo, e devemos expressa-la com a totalidade de nosso ser. A comida que oferecemos não deve ser igual a comida de hospital;
h) Quando se crer na mensagem:
· Os gestos são adequados (naturais, expressam o que estamos vivendo);
· A expressão se dá com alegria (semblante alegre, sorriso)
2.3. Perguntas a serem respondidas toda vez que formos da aula:
a) O que é que sei e desejo que esses alunos saibam também;
b) O que sinto, e desejo que eles sintam também;
c) O que estou fazendo e quero que eles façam. Nosso objetivo é ensinar a “Regra Áurea” — a resposta esperada dos alunos deve ser: “De hoje em diante, vou praticar a “Regra Áurea”; agora que a conheço passo a vivenciá-la”;
d) O que é a “Regra Áurea”? O que significa fazer aos outros aquilo que queremos que eles nos façam? — a classe tem que meditar sobre todos os aspectos dela.
e) Que impressão ela causa na mente de pessoas de nossa faixa etária? Na nossa experiência de vida? Na nossa cultura?
f) Como nos sentimos em relação a ela? Ela nos incomoda? Ela nos parece radical?
g) Como reagiríamos numa situação em que teríamos que pô-la em prática? Qual é a nossa reação normal? Vamos examiná-la ao nível da emoção para entendermos por que agimos da maneira como agimos, e quais as alternativas que temos;
h) Por último, vamos procurar imaginar situações específicas nas quais possamos aplicá-la. Estabeleçamos a meta de colocá-la em prática durante a semana. E, no domingo seguinte, ou na aula seguinte, vamos relatar as experiências que tivemos, ou positivas ou negativas, se fracassamos na aplicação e por quê. E concluiremos que nem sempre é muito fácil, mas vale a pena;

3. Colocando em Palavras

3.1. Segunda etapa — traduzir em palavras esse pensamento-sentimento-ação
a) Tenho uma verdade na mente, sinto-a (ela domina meus atos) e quero passá-la a outros;
b) As palavras são símbolos — a comunicação é um agrupamento desses símbolos;
c) Nossa função não é trabalhar com palavras, mas com vidas — o mundo esta cansado de nossas palavras e quer algo real;
d) Devemos testemunhar com palavras e com a vida e ter coerência nas duas formas — a comunicação deve ser verbal (oral ou escrita), e não-verbal (os atos e a linguagem corporal);
e) Os atos e palavras de Jesus se achavam sempre em perfeita harmonia;
f) Nossas palavras não devem ser anuladas pela atitude não-verbal. Cuidado, você pode estar pregando sem estar devidamente autorizado. Fique atento, pois o sindicato dos pregadores pode multá-lo.
g) Para ensinar é preciso buscar um equilíbrio entre — o conteúdo e sua comunicação; entre os fatos e a forma; entre o que ensinamos e a maneira como ensinamos;
h) Perguntas — O método que empregamos acha-se em harmonia com a natureza de nossa mensagem? (não adianta florear muito e não dizer nada);

4. Aprimorando a comunicação

Emissor —————– M e n s a g e m —————– Receptor

Pensamento-Sentimento-Ação — Palavras — Linguagem

4.1. Preparação — é o mais importante passo que damos para assegurar o sucesso de nossa comunicação.
Uma mensagem bem elaborada é apresentada com idéias organizadas e dispostas ordenadamente. Além da lógica e da ordem à mensagem deve ter progressão. (clímax)
a) Consiste em dar forma e feição à nossa mensagem;
b) O comunicador habilidoso é aquele que dar estrutura e invólucro a mensagem.
O comunicador que não fixa com clareza o propósito de sua mensagem tende a ficar falando em círculos intermináveis. Sem um propósito básico e um propósito específico jamais o comunicador conseguirá ser objetivo em sua mensagem.
4.1.1. Fases/observações:
a) Preparar a introdução — algo que conquiste a atenção do ouvinte (Ex. ânimo no desanimo, solitário na multidão). Criar empatia entre o emissor e o receptor (o inusitado chama mais atenção que o habitual), na elaboração é a última a ser feita. Conselhos para começar bem: comece onde o ouvinte está, domine o assunto a ser introduzido;, procure variar suas introduções, considere a ocasião e o auditório, evite o humor exagerado, não peça desculpas desnecessárias, não fique falando de outros assuntos, fale com naturalidade e vida, comunique confiando no Poder do Senhor, surpreenda os ouvintes;
b) O pressuposto de ter uma boa introdução é o domínio do conteúdo que vem depois, e o modo como dirá (argumentação lógica). Palavras soltas ou frases desconexas não produzem resultados permanentes;
c) É preciso saber concluir — parece que a conclusão da mensagem é a que menos se prepara. Seja objetivo e breve, considere a unidade, pare sem medo, evite o humor exagerado, considere o propósito específico, não comece uma nova mensagem. Ouvinte: “Eu orei pedindo a Deus que tivesse misericórdia do orador e o ajudasse a terminar a mensagem.”;
d) Devemos incluir ilustrações no corpo da mensagem (recursos audiovisuais) — são as janelas pelas qual a luz do conhecimento penetra na mente do ouvinte. A ilustração auxilia o ouvinte a ver com os olhos da mente. Ilustrar é esclarecer, elucidar, exemplificar, tornar mais claro. Ex.: metáfora (Mt 4.19); símile (Mt 13.24); hipérbole (Mt 5.29); indagações (Mt 5.13); parábolas (Lc 15.8-10);
e) Devemos evitar utilizar ilustrações de outros pregadores e sim transmitir aquelas que criamos com base em nossa experiência de vida ou de nossos ouvintes (alunos). Uma boa ilustração é aquela cuja história está de acordo com a tese e o propósito específico da mensagem. O contexto onde vivemos está recheado de ilustrações;
f) Devemos conhecer nossos alunos e estarmos atentos ao que está se passando em seu coração e mente. A boa mensagem fala a vida do ouvinte;
g) Um bom comunicador deve estar sempre atento para captar o que outros querem comunicar-lhe;
h) A avaliação de nossa comunicação não é feita aferindo-se o que dizemos, mas o que os alunos dizem; não o que nós pensamos, mais o que eles estão pensando; não o que sentimos, mas o que eles passaram a sentir; não o que nós fazemos, mas o que eles estão fazendo;
4.1.2. Apresentação — implica em enunciar, isto é, falar com clareza, para que os ouvintes possam compreender exatamente o que queremos dizer.
a) utilizar uma linguagem conhecida do aluno (culta, coloquial);
b) Modulação ou entonação da voz (monotonia) — procure conhecer e trabalhar a sua voz (evite imitação). Exemplos de mau uso da voz — Estridente – irrita o ouvinte; Dissonante – não prende a atenção; Extremamente suave – prejudica a audição; Extremamente forte – agride os tímpanos; Vagarosa demais – estimula o sono; Rápida demais – dificulta a compreensão; Gutural – deixa o ouvinte tenso;
c) Variar o tom, o andamento e o gesto (espontâneo), a fim de expressar sentimento — enfatize a transição de uma idéia para outra (mude a postura delicadamente);
OBS.: Além do toque final no esboço, o comunicador precisa atentar para o preparo físico (alimentação, repouso, exercícios físicos, evitar a ansiedade) e para a aparência pessoal (higiene, vestuário).

5. Fatores responsáveis pela desatenção

Como prender a atenção do aluno

5.1. Interferências
a) Fatores internos — estão no próprio ouvinte, fogem ao nosso controle: problemas pessoais, característica individual(tímido, egocêntrico), etc. Não podemos fazer nada para solucionar o problema, a não ser reconhecer a existência dele, porém existem aqueles que podemos neutralizar (fatores externos);
b) Fatores externos — estão no ambiente ao redor do aluno (temperatura da sala, preparo dos audiovisuais antes da aula, falta de comportamento adequado de algumas pessoas, lugar pequeno, grande, aglomerado ou atravancado, etc.). Quando o professor descobre as necessidades dos alunos e como eles aprendem, então pode saber o que ensinar e como ensinar;
c) Hábitos que prejudicam a comunicação — esmurrar o púlpito, tirar e colocar os óculos repetidamente, ficar centralizando o nó da gravata, assuar o nariz, coçar os ouvidos, ajeitar o bigode, enxugar o suor, gestos robotizados, repetições de palavras.

6. A “Resposta” da classe — uma das etapas finais da comunicação

6.1. Procurar saber o que os alunos aprenderam, como estão sentindo, o que estão fazendo.
a) Perguntar se “Estão entendendo?”. (se for negativa voltar ao princípio);
b) Pedir que expliquem com suas próprias palavras como podem aplicar a lição aprendida em sua de vida.
Podemos identificar assim as falhas de nossa comunicação

7. Para pensar

a) Em sua opinião, que tipo de “pontes” de ligação o professor pode criar entre ele e os alunos, individualmente, e entre ele e a classe toda?
b) Que avaliação você faria de seu modo de falar, quando está ensinando? Sua voz é bem clara e audível? Costuma emitir sentenças completas e expressar idéias, fáceis de acompanhar? Possui algum maneirismo que comprometa sua comunicação?
c) Quais são as melhores formas de se comunicar a uma classe, ou a qualquer outro grupo de ouvintes, uma idéia, visão ou alvo pelo qual você se sente entusiasmado?

Conclusão

“A tarefa do professor é despertar a mente do aluno, é estimular idéias, através do exemplo, da simpatia pessoal, e de todos os meios que puder utilizar para isso, isto é, fornecendo-lhe lições objetivas para os sentidos e fatos para a inteligência…. O maior dos mestres disse: ‘A semente é a palavra.’ O verdadeiro professor é o que revolve a terra e planta a semente.” (John Milton Gregory)

Agradecimentos

O autor agradece a professora Merita Gomes de Oliveira, titular da disciplina de Educação Cristã na Faculdade Teológica das Assembléias de Deus, pela oportunidade de produzir este estudo a fim de proporcionar aos alunos da disciplina uma reflexão dos preceitos que giram em torno da comunicação.

Referências

TEIXEIRA. João Marcos M. Educação Cristã. Estudo. Brasília/DF, 2006.
HENDRICKS, Howard G. Ensinando para transformar vidas. Editora Betânia, 1ª Edição, Belo Horizonte-MG, 1991.
MORAES, Jilton. Homilética: da pesquisa ao púlpito. Editora STBNB, 1ª Edição, Recife-PE, 2000.
FORD, Leroy. Ensino Dinâmico e Criativo. Editora JUERP, 4ª Edição, Rio de Janeiro-RJ, 1990.

Brasília, 05/06/2006

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